17.10.09

A Igreja do Osso - Poesia de Stephen King traduzida.

Recentemente publicado na revista americana Playboy e no seu site oficial o poema "The Bone Church" (A Igreja de Osso) conta a história de um grupo de viajantes que resolve seguir numa excursão por uma montanha com florestas. O grupo de pessoas começa a morrer de forma estranha e uma febre começa a assolar os viajantes. Apenas 3 deles chegam no topo e têm uma visão que mudaria para sempre suas vidas: a igreja do osso. O poema é contado pelo único sobrevivente (que não possui nome) e é atormentado até hoje pelas lembranças daquele dia.
Traduzi o poema e coloquei aqui. Não atentei para a preservação original de rimas e não garanto que ele está 100% correto, mas manti a estrutura original do poema. Caso encontrem qualquer erro de tradução (e vão haver erros) sintam-se livres para me avisar.

Legenda:
[exemplo] - Comentários meus, não estão no poema original.
[*exemplo*] - Traduções duvidosas, estranhas ou não traduzidos.


A IGREJA DO OSSO


Se você quer ouvir, pague-me outra bebida
(Ah... isso é [*bebedeira*] - [*bebedeira*] eu lhe digo - mas deixa pra lá, o que não é?
Éramos trinta e dois quando fomos para aquele [*monte verde*]
E apenas três que chegaram no topo
Três subiram no verde, três chegaram ao topo

Manning e Revois e eu. E o que aquele livro diz?
O famoso? "Apenas restou eu para lhe contar"
Eu morrerei na cama, como acontece com a maioria dos filhos-da-puta
E eu lamento a perda de Manning? O cacete! Foi o dinheiro dele
Que nos colocou lá, sua vontade nos levou lá, morte após morte.
Mas ele morreu na cama? Não ele! Eu cuidei disso!
Agora ele louva naquela igreja de ossos para sempre. A vida é magnífica!
(Que [*bebedeira*] é essa? Ainda assim - me pague outra, vá. Me pague duas!
"Coloque outro níquel no... "nickelodeon"--"
Em outras palavras eu conversarei por uísque, se você
Quer que eu me cale, me dê champagne.
Falar é barato, o silêncio é que é valioso, meu querido.
O que eu estava dizendo?)

Vinte nove mortos na marcha, e um deles uma mulher.
Belas tetas ela tinha, mas uma bunda que parecia uma sela [de cavalo] inglesa!
Nós a encontramos com a cara na fogueira apagada uma manhã
Pequenas cinzas queimaram nas bochechas e na garganta
Nunca machucou-a; o fogo devia estar frio quando ela foi pra cima dele
Ela falou a viagem inteira e morreu sem nenhum som;
O que é melhor que ser humano? Você vai dizer?
Não? Então vai à merda, e sua mãe, também;
Se tivesse dois ela seria como um rei do fornicamento.

Antropóloga, arr, ela disse. Não parecia
Com nenhuma antropóloga quando puxamos ela
Das cinzas com um chamuscado em suas bochechas e o branco de seus olhos
cinza de fuligem. Nenhuma outra marca nela.
Dorrance disse que poderia ter sido um infarte
E ele estava tão perto de ser médico quanto nós,
aquela vadia. Pelo amor de Deus traga uísque,
por que a vida é uma lerdeza sem ele!

Todo dia o verde os derrubava. Carson morreu com um galho
em sua bota. Seu pé [*dobrou*] e quando nós cortamos
a maldita bota de couro, seus calcanhares estavam negros
como a tinta que saiu do coração de Manning.
Reston e Polgoy, eles foram mordidos por aranhas
grandes como seu punho; Ackerman foi mordido por uma cobra que caiu
de uma árvore aonde ela balançava como o casaco de pele
de uma dama pendurado num cabide. Colocou seu veneno no nariz de Ackerman.
Que agonia, você diz. Veja então:
Ele rasgou sua própria pele! Arrancou-a
como um pêssego podre de uma árvore e morreu
cuspindo sua própria face morta! Maldita vida, eu digo,
E se você não puder rir você pode rir assim mesmo.
Não é mundo triste ao menos que você seja são, sabe?

Javier caiu de uma ponte feita com tábuas e quando nós
rebocamos ele e ele não podia respirar então
Dorrance tentou fazer respiração boca a boca
e sugou de sua garganta um sanguessuga tão grande quanto
um tomate de estufa. Ele pulou livre como uma rolha
de uma garrafa e se dividiu; pulverizou ambos com o [*claret*]
em que vivemos (pois somos todos alcoolicos desse modo, se você ver meu jeito)
e quando o Francês morreu delirando, Manning disse
que os sanguessugas tinha ido para o cérebro dele. Já eu, eu não possuo nenhuma opinião
nisso.
Tudo que sei é que os malditos olhos de Javier não fechavam
mas continuaram
pulando pra fora e pra dentro mesmo depois de uma hora morto.
Havia algo ali, certo, arr, sim, tinha!
E toda hora as araras gritavam para os macacos
e os macacos gritavam para as araras e ambos
gritavam para o céu azul que eles não podiam ver,
pois ele havia sido enterrado no maldito verde.
Isso é uísque ou diarréia em copo?
Havia um daqueles sugadores nas cuecas do Francês -
Eu lhe disse? Você sabe o que ele comeu, não sabe?

O próprio Dorrance que foi o próximo; nós estavamos
escalando nessa hora, mas ainda no verde. Ele caiu
em um desfiladeiro e nós conseguimos escutar o estalo. Quebrou seu pescoço,

vinte-seis anos de idade, noivo, caso fechado.
Arr, a vida não é magnífica? A vida é como um sanguessuga na garganta,
a vida é o desfiladeiro que todos nós caímos (ou nos asfixiamos), é uma sopa
e todos nós terminamos vegetais. Não é filosófico?
Não importa. É tarde para contar os mortos,
e eu estou muito bebâdo. No fim nós chegamos lá.
Apenas digo isso.

Escalamos aquele barranco alto, acima de todo aquele
verde infernal após enterramos Rostoy, Timmons,
o Texano - Eu esqueci seu nome - e Dorrance
e alguns outros. No fim a maioria caiu
da mesma febre que queimou suas peles e deixou-as verdes.
No fim era apenas Manning, Revois e eu.
Nós tivemos a febre também, mas melhoramos.

matamos ela antes que ela nos matasse.
Na verdade eu nunca fiquei melhor. Agora o uísque é
minha quinina, que eu levo para as [*saídas*], então pague-me
outro antes que eu esqueça minhas maneiras
e corte sua maldita garganta. Eu posso até mesmo
beber o que sair dela, então fique esperto, filhote,
e vá em frente, malditas sejam suas bochechas jovens.

Tinha uma estrada que nós pegamos, até Manning concordou,
e larga o bastante para elefantes se os caçadores de marfim
não tivessem limpado as planícies e selvas além deles
na época que o gás ainda era um trocado.
("Coloque outro níquel no--" Arr, esquece.)
Ela foi se [*cansando*], essa estrada, e nós [*cansamos*] com ela em lajes inclinadas
com pedras que há um milhão de anos foram descascadas da mãe terra,
pulando de um para outro como sapos ao sol, Revois
ainda queimando com a febre e eu - ó, eu era luz!
Como [*milkweed gauze*] em uma brisa, sabe - ainda assim
eu vi tudo. Minha mente estava tão clara quanto água limpa,
pois eu era tão jovem naquela época quanto sou horrendo hoje - sim, eu vejo
como você me olha, mas você não precisa tremer, pois
é seu próprio futuro que você vê desse lado da mesa.
Nós escalamos acima dos pássaros e não havia fim,
uma língua de pedra escavada direto no azul.

Manning começou a correr e nós corremos atrás, Revois
correndo de forma inteligente, doente como ele era.
(Mas ele não estava doente por muito tempo - hee!)
Nós olhamos para baixo e vimos o que vimos.
Manning ficou vermelho com a vista, e por que não?
Pois a cobiça é uma febre, também.
Ele me puxou pelo trapo que uma vez foi uma camisa

e perguntou se isso era um sonho. Quando eu disse que eu via
o que ele via, ele virou para Revois.
Mas antes que Revois pudesse dizer sim ou não, nós ouvimos o trovão
vindo do topo verde que deixamos para trás,
como uma tempestade vinda do lado contrário. Ou
que toda a terra tenha pego aquela febre que nos infernizou
e estava doente até as entranhas. Eu perguntei a Manning o que ele ouvia
e Manning não disse nada. Ele estava ocupado demais olhando
para aquela fissura, debaixo de mil pés de ar antigo
na igreja abaixo: um milhão de anos de ossos e presas,
um sepúlcro branco de eternidade, uma pilha de dentes
do jeito que você veria se o inferno secasse até [*a escória de seu caldeirão.*]
Arr! Sim!

Você esperava ver corpos empalados nos
antigos espinhos daquela tumba ensolarada. Não havia nenhum,
mas o trovão estava vindo, rolando pela terra
ao invés do céu. As pedras balançaram
sob nossos pés enquanto eles se arrebentavam no verde
que levou tantos - Rostou com sua boca de harpa,
Dorrance que cantou no caminho, a antropóloga
com a bunda de sela inglesa, vinte e seis outros.
Eles vieram, aqueles fantasmas descarnados, e balançaram o topo verde

aos seus pés, e numa onda cinza: elefantes que nenhum zoológico jamais teve
batendo ao lado do verde berço do tempo.
Despontando entre eles (acredite se quiser)
eram mamutes de eras mortas quando não havia
homem, suas presas espiraladas e seus olhos
tão vermelhos quanto chicotes de tristeza;
penduradas entre suas pernas enrugadas estavam vinhas da selva.
Um veio - Sim! - com uma flor presa
em uma parte de sua pele peitoral - como um botton!

Revois gritou e colocou sua mão sobre os olhos.
Manning disse "Eu não vejo isso." (Ele soou
como um homem explicando para um maldito guarda de trânsito.)
Eu os puxei e nós três tropeçamos
em uma buceta [no sentido de caverna] perto da beira. De lá
os vimos chegar: uma maré na face da realidade
que faz você desejar por cegueira e [*alegrar-se com isso*].
Eles passaram por nós e sobre nós, sem diminuir a velocidade,
os de trás empurrando os da frente,
e pra baixo eles foram, tocando seu caminho ao suicídio,
batendo nos ossos de seu próprio esquecimento uma milha abaixo.
Horas isso levou, aquelas convulsões infinitas de morte tropeçante;
cavalgando seu caminho para baixo, uma orquestra de latão,

diminuíndo. A poeira e o cheiro da merda deles por perto
nos asfixiou, e no fim Revois ficou louco.
Parou, ou para fugir ou para se unir a eles
Eu nunca soube qual, mas ele se uniu a eles,
mergulhando de cabeça e com suas botas para céu e
todas as [*nailheads*] piscando.
Um braço acenou. O outro..um daqueles gigantes pés achatados
arrancou fora de seu corpo e seu braço caiu logo depois, dedos
acenando: "Tchau!" e "Tchau!" e "Até mais, garotos!"
Har!
Eu me curvei para ver e foi uma visão memorável, certo,
como ele desceu em giratórias pelo ar
depois que ele se foi, então ficou rosa e flutuou para longe
em uma brisa que cheirava como cravos podres.
Seus ossos com o dos outros agora, e cadê minha bebida?

Mas com nenhum outro novo; os únicos novos ossos eram os dele.
Percebe o que eu digo? Escute de novo, maldito:
Os dele, mas nenhum outro.
Nada lá embaixo depois que o último dos gigantes passou por nós
exceto pela igreja de osso, que estava como ela era,
com uma macha vermelha, e esse era Revois.
Pois aquela foi uma cavalgada de fantasmas ou memórias,

e quem sabe o que assombra mais o homem? Manning levantou
tremendo, disse que nossas fortunas estavam feitas (como se ele
já não tivesse uma).
"E o que você acabou de ver?" Eu perguntei.
"Você traria outros para ver uma coisa sagrada assim?
Porque, a próxima coisa que você saberá é que o próprio Papa estará
mijando água benta nas calças!" Mas Manning
apenas disse não com a cabeça como um idiota, e segurou as mãos
sem um grão de areia nelas - embora nem um minuto
antes nós estivéssemos nos asfixiando nela,
e cheios dela da cabeça aos pés.

Disse que foi alucinação
que nós vimos, causadas pela água e água suja.

Disse de novo que nossas fortunas estavam feitas, e
riu. O filho da puta, aquela risada foi sua falha.

Eu vi que ele estava louco - ou eu estava- e um de nós
teria que morrer. Você sabe quem foi,
desde que estou aqui sentado diante de você, bebâdo, com um cabelo
que era preto e balançava nos meus olhos.
Ele disse, "Você não vê, seu tolo -- "
E não disse mais nada, pois o resto foi apenas um grito.
Foda-se ele!
E foda-se sua face sorridente!

Eu não lembro como eu voltei; é um
sonho de verde com faces negras nele,
então um sonho de azul com faces claras nele,
e agora eu acordo a noite nessa cidade
aonde nem ao menos um de dez sonham com o que
está além de suas vidas - pois os olhos que eles
usam para sonhar estão fechados, como os de Manning
estavam, até o fim, quando nem mesmo todas as contas bancárias no inferno
ou na Suíça (deve ser a mesma coisa) poderiam salvá-lo.

Eu acordo com meu fígado berrando, e no escuro
eu escuto o trovão daqueles grandes fantasmas cinzas se levantando
daquele [topo verde] como uma tempestade espalhada pela terra
e eu sinto o cheiro de poeira e merda, e quando eles
chegam ao céu de sua desgraça, eu vejo
os antigos lóbulos de suas orelhas e as pontas de suas
presas; eu vejo os olhos deles e os olhos deles e os olhos deles.
Há mais na vida do que isso; há mapas
dentro dos seus mapas e tempo além do seu tempo.

Aquilo ainda está lá, a igreja do osso, e eu gostaria de
voltar e achá-la novamente, então eu poderia me jogar
e acabar com essa comédia. Agora tire essa
sua cara de ovelha daqui antes que eu a tire por você.
Arr, esse lugar é sujo, essa realidade,
e não há religião nela, então pague-me uma bebida,
maldito seja. Vamos brindar elefantes que nunca existiram!

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